04/10/2016

A casa dos meus pais

04/10/2016
Reprodução: We Heart It 


Uma das coisas que são um paradoxo nas nossas vidas é a nossa saída da casa dos nossos pais. A ideia de deixar a nossa casa, a minha casa, é - ao mesmo tempo - desafiadora e amedrontadora. É aquele desejo de sair por ai, enfrentar o mundo, andar pelas próprias pernas, não ter regras e nem ter que dar satisfação sobre o que você está fazendo. Em contra partida, é cortar o cordão umbilical, é tropeçar e não ter ninguém pra te estender a mão ou pegar no colo, é enfrentar um desconhecido obscuro. 

É libertador e sofrido sair da casa dos pais. Eles nos falam "essa sempre será sua casa" ou " sua cama vai ficar te esperando". Com todos os medos, angústias e com uma mochila transbordando coragem você abraça eles e vai pra sua nova casa. Dificilmente, essa saída-  se você acabou de atingir a maior idade e está enfrentando a vida universitária - será pra um espaço exclusivamente seu, comprado com seu dinheiro. Provavelmente você vai:

a) Dividir apartamento
b) ir morar numa república 
c) Ir morar com algum outro parente.

Em qualquer uma dessas opções, você não vai ter atingido aquele liberdade tão almejada. Nas três opções, na real, você vai encontrar novas regras, novo tipo de satisfação pra dar, uma pia cheia de louça que demora pra desaparecer e um colchão - que pode ser muito confortável ou não -  que não é o seu. 

E tudo aquilo que te fazia sentir "em casa" na casa dos seus pais, não está ali. A sensação predominante é "essa não é a MINHA casa". Por mais que com o tempo, você se adapte ao ambiente e se acostume, o sentimento de não ser a sua casa, ainda estará ali. 

Se você pensou "pera, eu posso voltar! Minha cama está me esperando", uma alegria momentânea chega a te consumir. Pois bem, saiba que não é bem assim. Seja a volta das férias, pra passar o final de semana ou pra voltar pra ficar, aquela que foi sua casa por anos (em alguns casos, a sua vida toda), não será mais sua. Suas coisas estão ali, a foto na parede tem o seu rosto, aquele é o seu colchão, mas aquela não é mais a sua casa, é a casa doa seus pais. 

Uma casa é o lugar onde você mora por tempo indeterminado a outra a casa dos seus pais. Mas nenhuma é a SUA casa. É cruel com você, com aqueles que te acolheram tão bem e com seus pais. É muito cruel. Mas, infelizmente, é uma realidade. Essa sensação impregna, fica te atormentando quando você anda descalço na casa dos seus pais, sua mãe pede pra você colocar um chinelo e você se lembra que na outra casa, você estaria descalço sem problema algum. Atormenta também o inverso, você está na outra casa e acontece algo que seus pais te ajudariam - ao menos - a pensar e juntos achariam una solução e ali, naquele novo lugar, você tem uma ligação e que nunca será a mesma coisa. 

E no meio da ideia de "casa dos meus pais e a outra casa" fica a sua sensação de ser uma pessoa sem teto. Em nenhum momento as casas são sua. Elas pertence a alguém e não é você. Tenho a esperança que quando for o meu apartamento, a casa -finalmente - se torne minha. 

Dói sair da casa dos pais, demorei um ano pra conseguir chamar de "casa dos meus pais". Dói estar na casa nova, ela não te pertence como um todo. É estranho voltar como pertencente e se deparar como sendo a visita ao mesmo tempo que é incomodo não poder andar descalço pela casa.

Esse é o maior problema de sair da sua casa: Ela deixa de ser sua. 

Atriz, blogueira, leonina e (futura) radialista. A moça do "Fala Disconcentrados!", que acredita nos sonhos e corre atrás dele. Aqui no "Ds" tem como objetivo dar espaço para pessoas talentosas e escondidas por ai, sejam elas músicos, escritores ou pessoas influentes em geral, tudo através de muita alegria e diversão. .

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