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Uma
das coisas que são um paradoxo nas nossas vidas é a nossa saída da casa
dos nossos pais. A ideia de deixar a nossa casa, a minha casa, é - ao mesmo
tempo - desafiadora e amedrontadora. É aquele desejo de sair por ai, enfrentar
o mundo, andar pelas próprias pernas, não ter regras e nem ter que dar
satisfação sobre o que você está fazendo. Em contra partida, é cortar o cordão
umbilical, é tropeçar e não ter ninguém pra te estender a mão ou pegar no
colo, é enfrentar um desconhecido obscuro.
É
libertador e sofrido sair da casa dos pais. Eles nos falam "essa sempre
será sua casa" ou " sua cama vai ficar te esperando". Com
todos os medos, angústias e com uma mochila transbordando
coragem você abraça eles e vai pra sua nova casa. Dificilmente, essa
saída- se você acabou de atingir a maior idade e está enfrentando a vida
universitária - será pra um espaço exclusivamente seu, comprado com seu
dinheiro. Provavelmente você vai:
a)
Dividir apartamento
b)
ir morar numa república
c)
Ir morar com algum outro parente.
Em
qualquer uma dessas opções, você não vai ter atingido aquele liberdade tão
almejada. Nas três opções, na real, você vai encontrar novas regras, novo
tipo de satisfação pra dar, uma pia cheia de louça que demora pra
desaparecer e um colchão - que pode ser muito confortável ou não - que
não é o seu.
E
tudo aquilo que te fazia sentir "em casa" na casa dos seus pais, não
está ali. A sensação predominante é "essa não é a MINHA casa". Por
mais que com o tempo, você se adapte ao ambiente e se acostume, o sentimento de
não ser a sua casa, ainda estará ali.
Se
você pensou "pera, eu posso voltar! Minha cama está me esperando",
uma alegria momentânea chega a te consumir. Pois bem, saiba que não é bem
assim. Seja a volta das férias, pra passar o final de semana ou pra voltar
pra ficar, aquela que foi sua casa por anos (em alguns casos, a sua vida toda),
não será mais sua. Suas coisas estão ali, a foto na parede tem o seu
rosto, aquele é o seu colchão, mas aquela não é mais a sua casa, é a casa doa
seus pais.
Uma
casa é o lugar onde você mora por tempo indeterminado a outra a casa dos seus
pais. Mas nenhuma é a SUA casa. É cruel com você, com
aqueles que te acolheram tão bem e com seus pais. É muito cruel. Mas,
infelizmente, é uma realidade. Essa sensação impregna, fica te atormentando
quando você anda descalço na casa dos seus pais, sua mãe pede pra você
colocar um chinelo e você se lembra que na outra casa, você estaria
descalço sem problema algum. Atormenta também o inverso, você está na outra
casa e acontece algo que seus pais te ajudariam - ao menos - a pensar e juntos
achariam una solução e ali, naquele novo lugar, você tem uma ligação e que
nunca será a mesma coisa.
E
no meio da ideia de "casa dos meus pais e a outra casa" fica a
sua sensação de ser uma pessoa sem teto. Em nenhum momento as casas são
sua. Elas pertence a alguém e não é você. Tenho a esperança que quando for o
meu apartamento, a casa -finalmente - se torne minha.
Dói
sair da casa dos pais, demorei um ano pra conseguir chamar de "casa dos
meus pais". Dói estar na casa nova, ela não te pertence como um todo. É
estranho voltar como pertencente e se deparar como sendo a visita ao mesmo
tempo que é incomodo não poder andar descalço pela casa.
Esse
é o maior problema de sair da sua casa: Ela deixa de ser sua.
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